terça-feira, 5 de janeiro de 2016

A inteligência dos golfinhos é um mito?

O texto a seguir pode contradizer muita coisa que já foi postada nesse blog. Mas isso não é problema: Nenhum texto aqui trata-se da verdade absoluta. E todos podem ter sua contraparte postada, se for igualmente interessante.

 Uma vida social complexa. Vivem em comunidades grandes, com vários membros. Seus batimentos cardíacos disparam quando veem alguém da família em perigo ou sofrendo. E hoje se sabe que são capazes até de antecipar eventos futuros. 
 É, as galinhas são incríveis.

 Se você pensou que eu estava falando sobre golfinhos, não se sinta culpado: Esses comportamentos também são observados nos golfinhos. Para o biólogo americano, especialista em golfinhos, Justin Gregg, "galinhas não são as cabeça-ocas que imaginamos". Teriam as galinhas a mesma inteligência dos golfinhos? Ou melhor, os golfinhos são realmente inteligentes?

 Essa é a pergunta que dá título ao livro mais famoso de Gregg ("Are The Dolphins Really Smart?"), e ele não é o único a colocar essa pergunta na mesa. 

 Por mais de 50 anos as pessoas consideram os golfinhos como os intelectuais dos mares. A crença invadiu a cultura popular ("Até mais, e obrigado pelos peixes"), e se perpetuou nas nossas cabeças, mas de uns tempos pra cá, tem se levantado certa polêmica no mundo científico quanto a veracidade dessa preposição. Há basicamente dois grupos: Os que acreditam que os golfinhos estão mesmo acima da média, e os que garantem que eles são apenas um mamífero comum. 


 "Nós os colocamos num pedestal sem motivo", alega o neurologista Paul Manger, da Universidade de Witwatersrand na África do Sul. De acordo com ele, a ideia de que os golfinhos tem um cérebro mais desenvolvido que o normal, usem uma linguagem complexa e ferramentas é uma grande bobagem. 

 Dependendo do ponto de vista, os golfinhos podem perder até para peixinhos dourados. Se você colocar um peixinho numa vasilha, as vezes eles tentam escapar pulando pra fora dela. Golfinhos, que pulam o tempo todo sem razão, e bem alto por sinal, normalmente nem cogitam essa rota quando se veem cercados por redes de pesca e não sabem pra onde ir. Ou pelo menos é o que Manger garante. "Essa inteligência excepcional dos golfinhos é um mito".

Origens do Mito

Foi o neurocientista John Lilly, nos anos 1950, que elevou os golfinhos de "bichinhos com cara de peixe meio bobos" para a Labeca dos animais. 
Resumindo uma longa (e cruel) história, enquanto usava eletrodos para fazer experimentos no cérebro dos golfinhos, Lilly teve a impressão de que um dos golfinhos estava tentando lhe dizer alguma coisa (se estava, não é preciso ser poliglota pra saber que não deve ter fugido muito de "tira essa porcaria da minha cabeça, seu filho da..."). 

Depois de outros experimentos, Lilly estava convencido de que os golfinhos tinham uma capacidade tão complexa quanto a humana de comunicação e passou a se dedicar em encontrar uma forma de fazer contato com eles. Muitos livros, palestras, panfletagem e outras formas de espalhar sua mensagem depois, chegamos onde estamos: Uma sociedade onde todos acreditam que, de fato, os golfinhos tem um dialeto complexo, e são "tão inteligentes quanto qualquer homem ou mulher", como Lilly disse certa vez.

Cérebro Grande

Para argumentar sobre a possível inteligência de uma espécie, uma medida que os cientistas costumavam usar era baseada no tamanho do cérebro em comparação com o corpo. Por exemplo: O cérebro de um ser humano pesa 2% do peso total do corpo. Já o cérebro de um elefante, 0,2% do total do corpo dele. Golfinhos estariam na mesma escala dos chimpanzés, com o cérebro de ambas as espécies pesando 0,9% do peso total de seus respectivos corpos. 

O problema é que há uma pegadinha aqui: O cérebro de animais marinhos não se desenvolve da mesma forma que os terrestres. Baleias e golfinhos tem cérebros maiores, para prevenir uma situação de hipotermia cerebral em águas geladas, que poderia ser um problemão. Na verdade, uma grande parte do cérebro desses animais é composta primariamente por células especializadas em manter a temperatura, e não em processar informações complexas. 

Bichos da Farinha

Zoólogos ao redor do mundo afirmam que os golfinhos tem grandes habilidades cognitivas, como por exemplo, fazer uma distinção correta de conceitos como "muito" e "pouco". Paul Manger contra-argumenta: "Bichos da Farinha também são muito bons nisso". 

Há o famoso caso dos golfinhos da costa oeste da Austrália que usam esponjas do mar pra proteger o nariz e procurar comida sem se machucarem, como ferramentas. Manger, no entanto, é cético também: "Ninguém sabe exatamente o que os golfinhos estão fazendo com as esponjas", diz. "Não há evidências 

Sobre o tão alardeado talento para linguagem dos golfinhos, bom, isso não é uma exclusividade. Se os golfinhos são até capazes de decorar e interpretar combinações complexas de símbolos, não é exatamente como se fosse uma exclusividade entre os animais. Comunicação via sonar? Muitos outros mamíferos marinhos fazem algo assim. Linguagens intrincadas de sinais e gestos? Até as abelhas fazem algo assim de certo modo. 

Defensores dos Golfinhos

Claro que há uma comunidade, maior e disposta a provar que os golfinhos são sim bastante inteligentes. Na verdade, muitos pesquisadores de golfinhos chegam a se sentir ofendidos com essas coisas que você acabou de ler. Para  Karsten Brensing, um biólogo marinho da Whale and Dolphins Conversvation (WDC, uma organização de defesa às baleias e golfinhos), argumentos como o do bicho da farinha é ignorar o contexto. "Você pode usar argumentos como esse para dizer que seres humanos não são inteligentes também".

E realmente, os que acreditam na inteligência acima da média dos golfinhos tem uma boa lista de razões para acreditar nisso. Não vou me aprofundar nelas, pois o assunto do post é o contrário, mas há evidências de que os golfinhos são capazes de se reconhecer no espelho (o que denota um senso de auto-percepção avançado), cultivam relacionamentos e podem até tentar "mimar" seus amigos mais próximos com presentes, formam alianças por poder e a lista continua por muitos e muitos itens - os quais cientistas como Manger e Gregg costumam ser bastante céticos. 

"Especiais"

Cientistas como Manger e Gregg podem parecer os grandes inimigos dos golfinhos pelo que o texto veio dizendo até aqui, mas na verdade, ambos estão engajados na causa de proteção às espécies de golfinhos como poucos estão.

O que eles pedem é que as pessoas parem de tratar os golfinhos como "especiais", e sim, passem a tratá-los como animais que precisam de cuidado e de proteção, estão em risco 

Sua luta é para que as pessoas parem de antropomorfizar os golfinhos e os tratem como as criaturas únicas que eles são. 

E é assim que deve ser: Cada criatura na face da terra é incrível, a sua própria maneira.





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